Impacto ambiental cai 20% com nova tecnologia

Entregar obras com um impacto ambiental até 20% menor do que os projetos tradicionais. Esse é o objetivo do Edge (excelência em projeto para maior eficiência, na sigla em inglês), um software on-line e gratuito, já disponível em 125 países e cinco idiomas, inclusive o português. A iniciativa é do International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial para o financiamento privado, que pretende implementar o sistema em larga escala, principalmente entre pequenas e médias construtoras. No Brasil, a novidade avança aos poucos, com as primeiras aplicações em São Paulo, Minas Gerais e Ceará. A iniciativa chega em boa hora. Segundo dados do Banco Mundial, o setor de construção é responsável por 18% das emissões de gases de efeito-estufa (GEE) no mundo. “Em 20 minutos, com o software, um usuário experiente pode descobrir o impacto ambiental de uma nova edificação”, diz o escocês Edward Borgstein, consultor de negócios climáticos do IFC para a América Latina e Caribe.

O IFC financia projetos em áreas como água, energia, gestão de resíduos e construções “verdes” (green building). Desde 2004, apenas no programa batizado de Cidades, já investiu US$ 6,8 bilhões em 221 projetos, em 60 países. O programa financia operações a partir de US$ 20 milhões, que envolvam alternativas de redução de GEE, maior eficiência na pro visão de serviços e de melhorias no setor de infraestrutura.

“Somente na área de construções sustentáveis, aplicamos US$ 500 milhões, ao ano, com investimentos diretos”, diz o especialista, baseado em São Paulo há cinco anos. É nesse guarda-chuva de recursos que o IFC espera aumentar o uso do software Edge no Brasil.

Segundo Borgstein, a tecnologia foi desenvolvida para destravar a adesão às construções verdes. Pesquisa divulgada pelo IFC indica que 53% das construtoras no mundo não encampam projetos sustentáveis porque acreditam que são caros demais e 25% afirmam que as iniciativas não são customizadas segundo critérios climáticos ou regionais. “O Edge consegue mostrar a economia de custos e as despesas adicionais para implementar recursos mais ecológicos, de acordo com cenários locais”.

A meta é ajudar a construir obras com 20% de economia de água, energia e materiais. Para isso, inclui um banco de dados com índices climáticos de cada país e um cardápio de produtos que se adequam melhor à realidade dos orçamentos das construtoras, como paredes de dry wall ou cimento. Pode ser usado em novos projetos residenciais, comerciais e hospitalares, além de conseguir analisar edificações já existentes. Também fornece uma certificação de construção “verde” para os edifícios.

De acordo com o especialista, o investimento em iniciativas ambientais na construção tem retorno garantido. No mercado nacional, o retorno do investimento de edificações que adotam recursos sustentáveis acontece, em média, entre cinco e sete anos, diz.

No Brasil, o Edge foi usado em projetos residenciais em Fortaleza, Belo Horizonte e São Paulo. A construtora cearense C. Rolim Engenharia aderiu ao software na obra do residencial Paço das Águas. Em relação a projeto similar feito sem o Edge, obteve uma redução de 24% no uso de energia, 28% de economia de água e 22% no gasto com insumos.

Em Minas Gerais, a Precon Engenharia projetou o Ville Houston, com um corte de 44% em energia elétrica, 22% de recursos hídricos e até 31% menos de materiais construtivos, segundo a IFC. A construtora mineira Canopus foi a primeira empresa brasileira a receber o certificado Edge, em 2014. A obra premiada foi o Constelação Residence, próximo a Belo Horizonte. O projeto adotou painéis solares para o aquecimento de água, iluminação elétrica eficiente e torneiras de baixa vazão. O próximo desafio da construtora é receber o mesmo certificado na parceria público-privada (PPP) Júlio Prestes, um conjunto de 1,2 mil unidades habitacionais no bairro da Luz, em São Paulo. “A ideia é economizar 30%, somente com água”, afirma Borgstein. A previsão é que a obra, que inclui praça, escola de música, creche e lojas, seja entregue em 36 meses.

 

Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/4985176/impacto-ambiental-cai-20-com-nova-tecnologia